sábado, 23 de junho de 2012

Transição da Terra para o Mundo de Regeneração, Profecias, Medos e Esperanças -Divaldo Franco





Conferência de Divaldo Franco: Transição da Terra para o Mundo de Regeneração, Profecias, Medos e Esperanças realizada dia 21/06/2012 no Hangar -- Centro de Convenções e Feiras da Amazônia. Antes prestaram uma homenagem ao médium, que há 53 anos estabelece uma relação profunda com a sociedade paraense, através de suas obras em prol da paz.

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segunda-feira, 18 de junho de 2012

NINGUÉM É PROFETA EM SUA TERRA




Ninguém é profeta em sua terra

1. - Tendo vindo à sua terra natal, instruía-os nas sinagogas, de sorte que,
tomados de espanto, diziam: Donde lhe vieram essa sabedoria e esses milagres?
 - Não é o filho daquele carpinteiro? Não se chama Maria, sua mãe, e seus irmãos Tiago,José, Simão e Judas? Suas irmãs não se acham todas entre nós? Donde então lhe vêm todas essas coisas? - E assim faziam dele objeto de escândalo. Mas, Jesus lhes disse: Um profeta só não é honrado em sua terra e na sua casa. 
- E não fez lá muitos milagres devido à incredulidade deles. (S. Mateus, cap. XIII, vv. 54-58.)
2. - Enunciou Jesus dessa forma uma verdade que se tornou provérbio,que é de todos os tempos e à qual se poderia dar maior amplitude, dizendo que ninguém é profeta em vida.
Na linguagem usual, essa máxima se aplica ao crédito de que alguém goza entre os seus e entre aquele sem cujo seio vive, à confiança que lhes inspira pela superioridade do saber e da inteligência. Se ela sofre exceções, são raras estas e, em nenhum caso,absolutas.
O princípio de tal verdade reside numa consequência natural da fraqueza
humana e pode explicar-se deste modo: O hábito de se verem desde a infância, em todas as circunstâncias ordinárias da vida, estabelece entre os homens uma espécie de igualdade material que, muitas vezes, faz que a maioria deles se negue a reconhecer superioridade moral num de quem foram companheiros ou comensais, que saiu do mesmo meio que eles e cujas primeiras fraquezas todos testemunharam.
Sofre-lhes o orgulho com o terem de reconhecer o ascendente do outro. Quem
quer que se eleve acima do nível comum está sempre em luta com o ciúme e a
inveja. Os que se sentem incapazes de chegar à altura em que aquele se
encontra esforçam-se para rebaixá-lo, por meio da difamação, da maledicência e da calúnia; tanto mais forte gritam, quanto menores se acham, crendo que se engrandecem e o eclipsam pelo arruído que promovem. Tal foi e será a História da Humanidade, enquanto os homens não houverem compreendido a sua natureza espiritual e alargado seu horizonte moral. Por aí se vê que semelhante preconceito é próprio dos espíritos acanhados e vulgares, que tomam suas personalidades por ponto de aferição de tudo.
Doutro lado, toda gente, em geral, faz dos homens apenas conhecidos pelo espírito um ideal que cresce à medida que os tempos e os lugares se vão
distanciando. Eles são como que despojados de todo cunho de humanidade;
parece que não devem ter falado, nem sentido como os demais; que a
linguagem de que usaram e seus pensamentos hão de ter ressoado
constantemente no diapasão da sublimidade, sem se lembrarem, os que tal
imaginam, que o espírito não poderia permanecer constantemente em estado
de tensão e de perpétua superexcitação. No contacto da vida privada, vê-se por demais que o homem material em nada se distingue do vulgo. O homem corpóreo, que os sentidos humanos percebem, quase que apaga o homem
espiritual, do qual somente o espírito se percebe. De longe, apenas se vêem os
relâmpagos do gênio; de perto, vêem-se as paradas do espírito.
Depois da morte, nenhuma comparação mais sendo possível, unicamente o homem espiritual subsiste e tanto maior parece, quanto mais longínqua se torna a lembrança do homem corporal. É por isso que aqueles cuja passagem pela Terra se assinalou por obras de real valor são mais apreciados depois de mortos do que quando vivos. São julgados com mais imparcialidade, porque, já tendo desaparecido os invejosos e os ciosos, cessaram os antagonismos essoais. A posteridade é juiz desinteressado no apreciar a obra do espírito; aceita-a sem entusiasmo cego, se é boa, e a rejeita sem rancor, se é má, abstraindo da individualidade que a produziu.
Tanto menos podia Jesus escapar às conseqüências deste princípio, inerente à natureza humana, quanto pouco esclarecido era o meio em que ele vivia, meio esse constituído de criaturas votadas inteiramente à vida material.
Nele, seus compatriotas apenas viam o filho do carpinteiro, o irmão de homens
tão ignorantes quanto ele e, assim sendo, não percebiam o que lhe dava
superioridade e o investia do direito de os censurar. Verificando então que a sua palavra tinha menos autoridade sobre os seus, que o desprezavam, do que
sobre os estranhos, preferiu ir pregar para os que o escutavam e aos quais
inspirava simpatia.
Pode-se fazer idéia dos sentimentos que para com ele nutriam os que lhe
eram aparentados, pelo fato de que seus próprios irmãos, acompanhados de
sua mãe, foram a uma reunião onde ele se encontrava, para dele se
apoderarem, dizendo que perdera o juízo. (S. Marcos, cap. III, vv. 20, 21 e 31 a
35. - O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XIV.)


Assim, de um lado, os sacerdotes e os fariseus o acusavam de obrar pelo
demônio; de outro, era tachado de louco pelos seus parentes mais próximos.
Não é o que se dá em nossos dias com relação aos espíritas? E deverão estes queixar-se de que os seus concidadãos não os tratem melhor do que os de Jesus o tratavam?
O que há de estranhável é que, no século dezenove e no seio de nações
civilizadas, se dê o que, há dois mil anos, nada tinha de espantoso, por parte de um povo ignorante.



A GÊNESE
OS MILAGRES E AS PREDIÇÕES 
SEGUNDO O ESPIRITISMO

POR
A L L A N  K A R D E C

domingo, 17 de junho de 2012

70 anos de Paulo e Estevão


70 anos de Paulo e Estevão

Antonio Cesar Perri de Carvalho


Francisco Cândido Xavier completou a psicografia de Paulo e Estêvão no dia 8 de julho de 1941, quando Emmanuel assinou “Breve Notícia”, a apresentação da obra. Episódio histórico e curioso é que o citado livro foi psicografado por Chico Xavier numa saleta térrea da casa do Dr. Rômulo Joviano, na Fazenda Modelo, em Pedro Leopoldo (MG). 
Por uma deferência do então administrador da fazenda e chefe de Chico Xavier, este foi contemplado com a oportunidade de utilizar a referida sala nos intervalos das refeições, evitando que se deslocasse até sua residência. Este episódio e, pelo fato dessa fazenda ter sido o local de trabalho do então funcionário do Ministério da Agricultura e também pela frequência assídua do médium à reunião semanal do “Evangelho no lar” na residência de Joviano, a Universidade Federal de Minas Gerais – atual responsável pela fazenda – criou o Espaço Cultural Chico Xavier. Contando com as seguintes parcerias: Universidade, FEB e União Espírita Mineira, houve uma remodelação das dependências físicas e a inauguração ocorreu durante as comemorações do Centenário de Chico Xavier. O livro veio a lume no ano seguinte. Antes do lançamento da primeira edição de Paulo e Estêvão, ocorrido em julho de 1942, a revista Reformador já anunciava a obra em artigo de Ismael Gomes Braga: É uma biografia romanceada, do tipo das biografias modernas, mas diferente destas pela sua finalidade. [...]
No livro de Emmanuel os principais personagens nos traçam regras de conduta, abrem roteiro para a humanidade.1 E o articulista vaticina: “Pela beleza da forma e elevação dos ensinos, é sem dúvida uma obra de grande futuro”.1 No mês de lançamento da edição histórica, Alexandre Dias comentava que “as cenas e os cenários bem traçados, como a perfeita carac-prendem a atenção do leitor”.2 Pouco depois,Arnaldo Claro de S. Thiago opinava que “como romance histórico, de cunho realista, é de admirável tessitura; de um sabor clássico que agrada mesmo aos mais exigentes”.3 Passadas sete décadas, o citado romance de Emmanuel é considerado, a obra-prima da psicografia de Chico Xavier e, dentre seus livros mediúnicos, coloca-se entre os mais editados pela FEB! Esse livro traz grande contribuição para o entendimento das movimentações iniciais dos seguidores do Cristo – os “homens do Caminho” –, depois chamados cristãos, fato relatado pelo autor espiritual. 
É uma portentosa obra para se entender a profundidade e a abrangência de Paulo de Tarso, apóstolo indireto, mas inegavelmente o maior discípulo do Cristo e responsável pelo assentamento das bases do Cristianismo em várias localidades do Império e na sua capital – Roma. Em “Breve Notícia”, texto que antecede e prepara o leitor para a obra, Emmanuel esclareceu: 
[...] não é nosso propósito levantar apenas uma biografia romanceada. [...] Nosso melhor e mais sincero desejo é recordar as lutas acerbas e os ásperos testemunhos de um coração extraordinário, que se levantou das lutas humanas para seguir os passos do Mestre, num esforço incessante.4 Estêvão faz juz por aparecer no título do livro, pois “sem Estêvão, não teríamos Paulo de Tarso. [...] 
A contribuição de Estêvão e de outras personagens desta história real vem confirmar a necessidade e a universalidade da lei de cooperação”.4 O autor também revelou: Outra finalidade deste esforço humilde é reconhecer que o Apóstolo não poderia chegar a essa possibilidade, em ação isolada no mundo. [...] sem cooperação, não poderia existir amor; e o amor é a força de Deus, que equilibra o Universo.4 No final, Emmanuel complementa: Oferecendo, pois, este humilde trabalho aos nossos irmãos da Terra, formulamos votos para que o exemplo do Grande Convertido se faça mais claro em nossos corações, a fim de que cada discípulo possa entender quanto lhe compete trabalhar e sofrer, por amor a Jesus-Cristo.4 Em nossos dias há estudos que apontam: “[...] a conversão de Saulo se deu antes da primavera, ou seja, no primeiro trimestre do ano 36 d. C.”.5 Após o alerta do inigualável encontro: “– Saulo!... Saulo!... 
Por que me persegues?”,6 surgiram momentos difíceis e delicados, de intensas lutas interiores e de humilhações, inclusive quando o ex-doutor da Lei procura a igreja do “Caminho” nos arredores de Jerusalém, as definições para os primeiros labores apostólicos, as polêmicas sobre a abrangência do trabalho e da difusão do Cristianismo. Paulo superou as tendências judaizantes de alguns apóstolos e partiu para a disseminação da mensagem e da vivência cristãs junto à gentilidade. 7 Além de ser o fundador e estimulador de centenas de núcleos cristãos, inovou ao redigir as epístolas: – Não te atormentes com as necessidades do serviço. 
É natural que não possas assistir pessoalmente a todos, ao mesmo tempo. [...] – Poderás resolver o problema escrevendo a todos os irmãos em meu nome [...].8 Há muita orientação e aprendizagem na obra e vale o destaque para o roteiro continuado: As assembleias eram dominadas por ascendentes profundos do amor espiritual. A solidariedade estabelecera-se com fundamentos divinos. [...] 
A união de pensamentos em torno de um só objetivo dava ensejo a formosas manifestações de espiritualidade.9 Em outra obra, o autor espiritual esclarece um episódio curioso que o vincula ao apóstolo dos gentios, e a nosso ver, a toda a sua trajetória espiritual: [...] Conheci-o, em Roma, nos seus dias de trabalho mais rude de provações mais acerbas. Vi-o uma vez unicamente, quando um carro de Estado transportava o senador Públio Lêntulus, ao longo da Porta Ápia, mas foi o bastante para nunca mais esquecê-lo. [...] Trocamos algumas palavras que me deram a conhecer a sua inteireza de caráter e a grandeza de sua fé. O fato ocorria pouco depois da trágica desencarnação de Lívia e eu trazia o espírito atormentado.10 
Como já destacavam os primeiros comentaristas de Reformador sobre a obra em foco, o romance é muito significativo. A leitura, estudo e reflexão em torno da obra septuagenária é oportuna em nossos dias. Cabem ilações e até algumas analogias com relação a algumas querelas e polêmicas organizacionais, de práticas de mediunidade e de comunicação da atualidade. 
A experiência de vida do personagem homenageado na obra magistral é muito rica e valorosa.
A inspiração em Paulo é sempre valorizada por Emmanuel: “O convertido de Damasco foi o agricultor humano que conseguiu aclimatar a flor divina do Evangelho sobre o mundo”,10 ou ainda: “O Evangelho não nos diz que Paulo de Tarso fazia maravilhas, mas que Deus operava maravilhas extraordinárias por intermédio das mãos dele”.11 

Referências: 
1BRAGA, Ismael Gomes. Mais um livro para o futuro. In: Reformador, ano 60, n. 5, p. 16(108)-17(109), mai. 1942. 2DIAS, Alexandre.  
Paulo e Estêvão, de Emmanuel. In: Reformador, ano 60, n. 7, p. 24(164), jul. 1942.  
3THIAGO, Arnaldo Claro de S. Paulo e Estêvão. Os mártires da fé. In: Reformador, ano 60, n. 11, p. 22(274), nov. 1942.  
4XAVIER, Francisco C. Paulo e Estêvão. Pelo Espírito Emmanuel. ed. esp. Rio de Janeiro: FEB, 2002. Cap. Breve notícia, p. 7-10.  
5DIAS, Haroldo Dutra. Cristianismo redivivo: história da era apostólica, a conversão de Saulo. In: Reformador, ano 127, n. 2.160, p. 36(114)-37(115), mar. 2009. 
6XAVIER, Francisco C. Paulo e Estêvão. Pelo Espírito Emmanuel. ed. esp. Rio de Janeiro: FEB, 2002. P. 1, cap. 10, p. 212.  
7______. ______. Cap. 4.  
8______. ______. P. 2, cap. 7, p. 460-461.  
9______. ______. P. 2, cap. 4, p. 342. 
10XAVIER, Francisco C. Pelo Espírito Emmanuel. In: TAVARES, Clóvis. Amor e sabedoria de Emmanuel. São Paulo: Ed. Calvário, 1970. Cap. 1, p. 21-23. 
11______. Caminho, verdade e vida. Pelo Espírito Emmanuel. 27. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Cap. 74, p. 163-164.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

DESAPARECIMENTO DO CORPO DE JESUS




Desaparecimento do corpo de Jesus

O desaparecimento do corpo de Jesus após sua morte há sido objeto de inúmeros comentários. Atestam-no os quatro evangelistas, baseados nas narrativas das mulheres que foram ao sepulcro no terceiro dia depois da crucificação e lá não o encontraram. Viram alguns, nesse desaparecimento, um fato milagroso, atribuindo-o outros a uma subtração clandestina.
Segundo outra opinião, Jesus não teria tido um corpo carnal, mas apenas um corpo fluídico; não teria sido, em toda a sua vida, mais do que uma aparição tan
gível; numa palavra: uma espécie de agênere.


1) Dele unicamente fala o historiador judeu Flávio Josefo, que, aliás, diz bem pouca
coisa.


Seu nascimento, sua morte e todos os atos materiais de sua vida teriam sido apenas aparentes. Assim foi que, dizem, seu corpo, voltado ao estado fluídico, pode desaparecer do sepulcro
e com esse mesmo corpo é que ele se teria mostrado depois de sua morte.
É fora de dúvida que semelhante fato não se pode considerar radicalmente impossível, dentro do que hoje se sabe acerca das propriedades dos fluidos; mas, seria, pelo menos, inteiramente excepcional e em formal oposição ao caráter dos agêneres. (Cap. XIV, nº 36.) Trata-se, pois, de saber se tal hipótese é admissível, se os fatos a confirmam ou contradizem.

A estada de Jesus na Terra apresenta dois períodos: o que precedeu e o que se seguiu à sua morte. No primeiro, desde o momento da concepção até o nascimento, tudo se passa, pelo que respeita à sua mãe, como nas condições ordinárias da vida (1). Desde o seu nascimento até a sua morte, tudo, em seus atos, na sua linguagem e nas diversas circunstâncias da sua vida, revela os caracteres inequívocos da corporeidade. São acidentais os fenômenos de ordem psíquica que nele se produzem e nada têm de anômalos, pois que se explicam pelas propriedades do perispírito e se dão, em graus diferentes, noutros indivíduos. Depois de sua morte, ao contrário, tudo nele
revela o ser fluídico. É tão marcada a diferença entre os dois estados, que não podem ser assimilados.
O corpo carnal tem as propriedades inerentes à matéria propriamente dita, propriedades que diferem essencialmente das dos fluidos etéreos; naquela, a desorganização se opera pela ruptura da coesão molecular. Ao penetrar no corpo material, um instrumento cortante lhe divide os tecidos; se os órgãos essenciais à vida são atacados, cessa-lhes o funcionamento e sobrevém a morte, isto é, a do corpo. 



(1) Não falamos do mistério da encarnação, com o qual não temos que nos ocupar aqui
e que será examinado ulteriormente.
Nota da Editora: Kardec, em vida, não pôde cumprir esta promessa, visto que, no ano
seguinte, ao dar publicação a esta obra, foi chamado à Pátria Espiritual.


Não existindo nos corpos fluídicos essa coesão, a vida aí já não repousa no jogo de órgãos especiais e não se podem produzir desordens análogas àquelas. Um instrumento cortante ou outro qualquer penetra num corpo fluídico como se penetrasse numa massa de vapor, sem lhe ocasionar qualquer lesão. Tal a razão por que não podem morrer os corpos dessa espécie e por que os seres fluídicos, designados pelo nome de agêneres, não podem ser mortos.
Após o suplício de Jesus, seu corpo se conservou inerte e sem vida; foi sepultado como o são de ordinário os corpos e todos o puderam ver e tocar.
Apôs a sua ressurreição, quando quis deixar a Terra, não morreu de novo; seu corpo se elevou, desvaneceu e desapareceu, sem deixar qualquer vestígio, prova evidente de que aquele corpo era de natureza diversa da do que pereceu na cruz; donde forçoso é concluir que, se foi possível que Jesus morresse, é que carnal era o seu corpo.
Por virtude das suas propriedades materiais, o corpo carnal é a sede das sensações e das dores físicas, que repercutem no centro sensitivo ou Espírito.
Quem sofre não é o corpo, é o Espírito recebendo o contragolpe das lesões ou alterações dos tecidos orgânicos. Num corpo sem Espírito, absolutamente nula é a sensação. Pela mesma razão, o Espírito, sem corpo material, não pode experimentar os sofrimentos, visto que estes resultam da alteração da matéria, donde também forçoso é se conclua que, se Jesus sofreu materialmente, do
que não se pode duvidar, é que ele tinha um corpo material de natureza semelhante ao de toda gente.
Aos fatos materiais juntam-se fortíssimas considerações morais.
Se as condições de Jesus, durante a sua vida, fossem as dos seres fluídicos, ele não teria experimentado nem a dor, nem as necessidades do corpo. Supor que assim haja sido é tirar-lhe o mérito da vida de privações e de sofrimentos que escolhera, como exemplo de resignação. Se tudo nele fosse aparente, todos os atos de sua vida, a reiterada predição de sua morte, a cena
dolorosa do Jardim das Oliveiras, sua prece a Deus para que lhe afastasse dos lábios o cálice de amarguras, sua paixão, sua agonia, tudo, até ao último brado, no momento de entregar o Espírito, não teria passado de vão simulacro, para enganar com relação à sua natureza e fazer crer num sacrifício ilusório de sua vida, numa comédia indigna de um homem simplesmente honesto, indigna, portanto, e com mais forte razão de um ser tão superior. Numa palavra: ele teria abusado da boa-fé dos seus contemporâneos e da posteridade. Tais as conseqüências lógicas desse sistema, conseqüências inadmissíveis, porque o rebaixariam moralmente, em vez de o elevarem. (1)
Jesus, pois, teve, como todo homem, um corpo carnal e um corpo fluídico, O que é atestado pelos fenômenos materiais e pelos fenômenos psíquicos que lhe assinalaram a existência.
Não é nova essa idéia sobre a natureza do corpo de Jesus. No quarto século, Apolinário, de Laodicéia, chefe da seita dos apolinaristas, pretendia que Jesus não tomara um corpo como o nosso, mas um corpo impassível, que descera do céu ao seio da santa Virgem e que não nascera
dela; que, assim, Jesus não nascera, não sofrera e não morrera, senão em aparência. Os apolinaristas foram anatematizados no concílio de Alexandria, em 360; no de Roma, em 374; e no de Constantinopla, em 381.

(1) Nota da Editora: Diante das comunicações e dos fenômenos surgidos após a partida de Kardec, concluiu-se que não houve realmente vão simulacro, como igualmente não houve simulacro de Jesus, após a sua morte, ao pronunciar as palavras que foram registradas por
Lucas (24:39): - "Sou eu mesmo, apalpai-me e vede, porque um Espírito não tem carne nem osso, como vedes que eu tenho."Tinham a mesma crença os Docetas (do grego dokein, aparecer), seita

numerosa dos Gnósticos, que subsistiu durante os três primeiros séculos. (1)
__________
(1) Nota da Editora: Não somente foram anatematizados os apolinaristas, mas também
os reencarnacionistas e os que se põem em comunicação com os mortos.



A GÊNESE-OS MILAGRES E AS PREDIÇÕES SEGUNDO O ESPIRITISMO

POR
A L L A N K A R D E C
(Autor de "O Livro dos Espíritos")

terça-feira, 5 de junho de 2012

ENFERMIDADE DA ALMA



ENFERMIDADE DA ALMA


Gravame de significado perigoso nos relacionamentos humanos é a intriga. Perversa, é semelhante à erva daninha e traiçoeira que medra no jardim das amizades, gerando desconforto e agressividade. A intriga é enfermidade da alma que se alastra perigosamente na sociedade, tornando-se terrível inimiga dos bons costumes. 

O intrigante é sempre alguém infeliz e invejoso que projeta os seus conflitos onde se encontra, alegrando-se com os embaraços que proporciona no meio social. À semelhança de cupim sorrateiro, destrói sem ser vista, até o momento em que as resistências fragilizadas de suas vítimas rompem-se, dando lugar ao caos, à destruição. Muitas vezes, o insensato não faz ideia do poder mefítico da intriga, permitindo-se-lhe a manifestação verbal ou gráfica, por falta de responsabilidade ou desvio de conduta psicológica. 

Da simples referência a respeito de alguém ou de algum acontecimento adulterado pela imaginação enferma, surge a rede das informações infelizes que dilaceram as vidas que lhes são o alvo inditoso. Ninguém, na Terra, encontra-se indene à difamação das pessoas espiritualmente enfermas, e, uma vez atingidos pelas flechas das narrações deturpadas, os homens se deixam sucumbir, abandonando os propósitos superiores em que se fixavam, sem ânimo para o prosseguimento nos ideais abraçados. 

Lamentavelmente, a intriga consegue grassar com imensa facilidade em quase todos os grupamentos sociais, religiosos, familiares, políticos, de todos os matizes, em razão de alguns dos seus membros encontrar-se em desarmonia interior. Todo o empenho deve ser aplicado para a vitória sobre a intriga. Cabe àqueles que são devotados ao bem não darem ouvidos à intriga que se apresenta disfarçada de maledicência, de censura em relação a outrem ausente, aplicando o antídoto do silêncio nesse trombetear da maldade. Cuidasse, o intrigante, do próprio comportamento e dar-se-ia conta do quanto necessita de corrigir, em si mesmo, ao invés de projetar no seu próximo o morbo infeccioso. Toda censura com sinais de acusação é filha da crueldade que se converte em intriga. 

São célebres as intrigas das cortes, nas quais os ociosos e inúteis compraziam-se em tecer redes vigorosas que asfixiavam as melhores expressões do trabalho, que mesmo imperfeitas ou necessitadas de aprimoramento, produziam o bem...
Nada se edifica ou se faz sem o exercício, em cujo início os equívocos têm lugar. As mais colossais realizações são resultado de pequenos ou incertos tentames. O intrigante, porém, sempre ativo e vigilante, porque insidioso, logo se apropria da mínima falha que observa em qualquer projeto para investir furibundo e devastador.

Jesus referiu-se com firmeza àquele que vê o argueiro no olho do próximo, embora a trave pesada que se encontra no seu.  Sê tu, no entanto, aquele que adota a complacência, que compreende o limite e a dificuldade do outro. 

Fala, quando a tua boca possa cantar o bem de que está cheio o teu coração. A palavra enunciada torna-te servo, enquanto que a silenciada faz-te dela senhor. Não estás convidado para vigiar o próximo, mas para conviver e trabalhar com ele. Tocado no sentimento pelo amor, usa a bondade nas tuas considerações em relação às demais pessoas com as quais convives ou não. 

Faze-te a criatura gentil por quem todos anelam, estando sempre às ordens dos Mensageiros da luz para o serviço da fraternidade e da construção do bem no mundo. A palavra é portadora de grande poder, tanto para estimular, conduzir à plenitude, assim como para gerar sofrimento, destruição e amargura...

Guerras terríveis, representando a inferioridade humana, surgiram de intrigas de pequeno porte, que se tornaram ameaças terríveis... 

Tratados de paz e de união também são frutos do acordo pela parlamentação e graças às decisões de alto porte. Tem, pois, cuidado com o que falas, a respeito do que ouves, vês ou participas. Serás responsável pelo efeito das expressões que externes, em razão do seu conteúdo. 

Convidado a servir na Seara de Jesus, mantém-te vigilante em relação a essa enfermidade que contagia: a intriga! Tentado, em algum momento, a acusar, a criar situações danosas, resiste e silencia, legando ao tempo a tarefa que lhe compete. Isso não quer dizer conivência com o erro, mas interrupção da corrente prejudicial, mantida pela intriga. 

Antes, significa também a decisão de não vitalizar o mal, mantendo-te em paz, sustentado pela
irrestrita confiança em Deus, na execução da tarefa abraçada, seja ela qual for. A intriga apresenta-se de forma sutil ou atrevidamente, produzindo choques emocionais que se transformam em dores naqueles que lhes padecem a injunção cruenta. 

Allan Kardec, o nobre mensageiro do Senhor, preocupado com o próprio e o comportamento dos indivíduos, buscando uma diretriz segura para evitar a intriga e outros desvios na convivência social, indagou aos guias espirituais, conforme se lê na questão 886, de O Livro dos Espíritos: Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus? E eles responderam com expressiva sabedoria: “Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas”.

Nessa resposta luminosa encontra-se todo um tratado de ética para bem viver, ser feliz e contribuir para a alegria dos outros.

Joanna de Ângelis (Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, na reunião
mediúnica da noite de 23 de janeiro de 2012, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia).
Revista Reformador - maio/2012.


sábado, 2 de junho de 2012

A Providência


A Providência

 A providência é a solicitude de Deus para com as suas criaturas. Ele está em toda parte, tudo vê, a tudo preside, mesmo às coisas mais mínimas. É nisto que consiste a ação providencial.
«Como pode Deus, tão grande, tão poderoso, tão superior a tudo, imiscuir-se em pormenores ínfimos, preocupar-se com os menores atos e os menores pensamentos de cada indivíduo?» Esta a interrogação que a si mesmo dirige o incrédulo, concluindo por dizer que, admitida a existência de Deus, só se pode admitir, quanto à sua ação, que ela se exerça sobre as leis gerais do Universo; que este funcione de toda a eternidade em virtude dessas leis, às quais toda criatura se acha submetida na esfera de suas atividades, sem que haja mister a intervenção incessante da Providência.

 No estado de inferioridade em que ainda se encontram, só muito dificilmente podem os homens compreender que Deus seja infinito. Vendo-se limitados e circunscritos, eles o imaginam também circunscrito e limitado. Imaginando-o circunscrito, figuram-no quais eles são, à imagem e semelhança deles. Os quadros em que o vemos com traços humanos não contribuem pouco para entreter esse erro no espírito das massas, que nele adoram mais a forma que o pensamento. Para a maioria, é ele um soberano poderoso, sentado num trono inacessível e perdido na imensidade dos céus. Tendo restritas suas faculdades e percepções, não compreendem que Deus possa e se digne de intervir diretamente nas pequeninas coisas.

 Impotente para compreender a essência mesma da Divindade, o homem não pode fazer dela mais do que uma idéia aproximativa, mediante comparações necessariamente muito imperfeitas, mas que, ao menos, servem para lhe mostrar a possibilidade daquilo que, à primeira vista, lhe parece impossível.
Suponhamos um fluido bastante sutil para penetrar todos os corpos. Sendo ininteligente, esse fluido atua mecanicamente, por meio tão-só das forças materiais. Se, porém, o supusermos dotado de inteligência, de faculdades perceptivas e sensitivas, ele já não atuará às cegas, mas com discernimento, com vontade e liberdade: verá, ouvirá e sentirá.

 As propriedades do fluido perispirítico dão-nos disso uma idéia. Ele não é de si mesmo inteligente, pois que é matéria, mas serve de veículo ao pensamento, às sensações e percepções do Espírito. Esse fluido não é o pensamento do Espírito; é, porém, o agente e o intermediário desse pensamento. Sendo quem o transmite, fica, de certo modo, impregnado do pensamento transmitido. Na impossibilidade em que nos achamos de o isolar, a nós nos parece que ele, o pensamento, faz corro com o fluido, que com este se confunde, como sucede com o som e o ar, de maneira que podemos, a bem dizer, materializá-lo. Assim como dizemos que o ar se torna sonoro, poderíamos, tomando o efeito Pela causa, dizer que o fluido se torna inteligente.

 Seja ou não assim no que concerne ao pensamento de Deus, isto é, quer o pensamento de Deus atue diretamente, quer por intermédio de um fluido, para facilitarmos a compreensão à nossa inteligência, figuremo-lo sob a forma concreta de um fluido inteligente que enche o universo infinito e penetra todas as partes da criação: a Natureza inteira mergulhada no fluido divino. Ora, em virtude do princípio de que as partes de um todo são da mesma natureza e têm as mesmas propriedades que ele, cada átomo desse fluido, se assim nos podemos exprimir, possuindo o pensamento, isto é, os atributos essenciais da Divindade e estando o mesmo fluido em toda parte, tudo está submetido à sua ação inteligente, à sua previdência, à sua solicitude. Nenhum ser haverá, por mais ínfimo que o suponhamos, que não esteja saturado dele. Achamo-nos então, constantemente, em presença da Divindade; nenhuma das nossas ações lhe podemos subtrair ao olhar; o nosso pensamento está em contacto ininterrupto com o seu pensamento, havendo, pois, razão para dizer-se que Deus vê os mais profundos refolhos do nosso coração. Estamos nele, como ele está em nós, segundo a palavra do Cristo.
Para estender a sua solicitude a todas as criaturas, não precisa Deus lançar o olhar do Alto da imensidade. As nossas preces, para que ele as ouça, não precisam transpor o espaço, nem ser ditas com voz retumbante, pois que, estando de contínuo ao nosso lado, os nossos pensamentos repercutem nele. Os nossos pensamentos são como os sons de um sino, que fazem vibrar todas as moléculas do ar ambiente.

 Longe de nós a idéia de materializar a Divindade. A imagem de um fluido inteligente universal evidentemente não passa de uma comparação apropriada a dar de Deus uma idéia mais exata do que os quadros que o apresentam debaixo de uma figura humana. Destina-se ela a fazer compreensível a possibilidade que tem Deus de estar em toda parte e de se ocupar com todas as coisas.

 Temos constantemente sob as vistas um exemplo que nos permite fazer idéia do modo por que talvez se exerça a ação de Deus sobre as partes mais intimas de todos os seres e, conseguintemente, do modo por que lhe chegam as mais sutis impressões de nossa alma. Esse exemplo tiramo-lo de certa instrução que a tal respeito deu um Espírito.

 «O homem é um pequeno mundo, que tem como diretor o Espírito e como dirigido o corpo. Nesse universo, o corpo representará uma criação cujo Deus seria o Espírito. (Compreendei bem que aqui há uma simples questão de analogia e não de identidade.) Os membros desse corpo, os diferentes órgãos que o compõem, os músculos, os nervos, as articulações são outras tantas individualidades materiais, se assim se pode dizer, localizadas em pontos especiais do referido corpo. Se bem seja considerável o número de suas partes constitutivas, de natureza tão variada e diferente, a ninguém é licito supor que se possam produzir movimentos, ou uma impressão em qualquer lugar, sem que o Espírito tenha consciência do que ocorra. Há sensações diversas em muitos lugares simultaneamente? O Espírito as sente todas, distingue, analisa, assina a cada uma a causa determinante e o ponto em que se produziu, tudo por meio do fluido perispirítico.

«Análogo fenômeno ocorre entre Deus e a criação. Deus está em toda parte, na Natureza, como o Espírito está em toda parte, no corpo. Todos os elementos da criação se acham em relação constante com ele, como todas as células do corpo humano se acham em contacto imediato com o ser espiritual. Não há, pois, razão para que fenômenos da mesma ordem não se produzam de maneira idêntica, num e noutro caso.

«Um membro se agita: o Espírito o sente; uma criatura pensa: Deus o sabe. Todos os membros estão em movimento, os diferentes órgãos estão a vibrar; o Espírito ressente todas as manifestações, as distingue e localiza. As diferentes criações, as diferentes criaturas se agitam, pensam, agem diversamente: Deus sabe o que se passa e assina a cada um o que lhe diz respeito.

«Daí se pode igualmente deduzir a solidariedade da matéria e da inteligência, a solidariedade entre si de todos os seres de um mundo, a de todos os mundos e, por fim, de todas as criações com o Criador.» (Quinemant, Sociedade de Paris, 1867.)

 Compreendemos o efeito: já é muito. Do efeito remontamos à causa e julgamos da sua grandeza pela do efeito. Escapa-nos, porém, a sua essência íntima, como a da causa de uma imensidade de fenômenos. Conhecemos os efeitos da eletricidade, do calor, da luz, da gravitação; calculamo-los e, entretanto, ignoramos a natureza íntima do principio que os produz. Será então racional neguemos o princípio divino, por que não o compreendemos?

 Nada obsta a que se admita, para o principio da soberana inteligência, um centro de ação, um foco principal a irradiar incessantemente, inundando o Universo com seus eflúvios, como o Sol com a sua luz. Mas onde esse foco? É o que ninguém pode dizer. Provavelmente, não se acha fixado em determinado ponto, como não o está a sua ação, sendo também provável que percorra constantemente as regiões do espaço sem-fim. Se simples Espíritos têm o dom da ubiqüidade, em Deus há de ser sem limites essa faculdade. Enchendo Deus o Universo, poder-se-ia ainda admitir, a título de hipótese, que esse foco não precisa transportar-se, por se formar em todas as partes onde a soberana vontade julga conveniente que ele se produza, donde o poder dizer-se que está em toda parte e em parte nenhuma.

 Diante desses problemas insondáveis, cumpre que a nossa razão se humilhe. Deus existe: disso não poderemos duvidar. É infinitamente justo e bom: essa a sua essência. A tudo se estende a sua solicitude: compreendemo-lo. Só o nosso bem, portanto, pode ele querer, donde se segue que devemos confiar nele: é o essencial. Quanto ao mais, esperemos que nos tenhamos tornado dignos de o compreender.

A  G Ê N E S E
Por
ALLAN KARDEC